top of page
Foto do escritorJhonny Castro

Viajar é um tipo diferente de solidão

A estrada, a chegada, o caminho. Quando estou chegando a algum lugar, desejo que a viagem demore um pouco mais. Não a viagem, a estrada. Que seja mais longa, que seja mais longe. É a parte preferida de viajar, a solidão do ônibus, da viagem à noite. Entre tantos motivos para não desejar a aurora, o meu é o horizonte.


Cada cidade nova é sim um mundo a explorar, com personalidade própria, ainda que todo centro urbano seja em civilização parecido. Ruas, prédios, um centro, coisas bonitas, parques, coisas feias, trânsito, as indústrias nos cantos, diversão no meio. Mas muda muito.


Descobri, por exemplo, que Goiânia é uma cidade muito mais verde do que Curitiba, que disso tanto se orgulha. Que vontade de ter aqui perto aqueles patos, tartarugas, lagartos, gansos, e uma única, porém acredito que não solitária, garça. Apoiado na mureta do deck de madeira, rindo sozinho das estripulias das aves, percebo que um parque também é um tipo diferente de solidão.


Em Caldas Novas, passei mais tempo na banheira do quarto, sozinho, do que nas imensas piscinas termais, repletas de senhorzinhos e senhorinhas em suas excursões. Idosos em grandes grupos, afastando a solidão da idade.


Passei duas noites inteiras nas estradas, nos trajetos mais longos. Nas viagens entre municípios próximos, me locomovi de dia, às vezes olhando para a chuva, para o sol, para as paisagens que só vemos quando saímos de casa e nos afastamos. À noite, dorme-se e se acorda em outro lugar.


Sobre São Paulo, tenho dúvidas. Não sei se lá não existe solidão, quando tantas pessoas disputam o mesmo metro quadrado no metrô; onde um acordo social tácito prevê que os lados esquerdos das escadas rolantes são deixados para quem tem mais pressa; onde existe congestionamento até nos corredores. Ou se lá tudo, absolutamente tudo, é solidão, e pelos mesmos motivos.


Em Brasília tudo é longe. É uma cidade bastante plana, e do bonito Memorial JK é possível ver, ao longe, o Congresso Nacional, lá no horizonte. Nunca caminhei tanto de um lado para o outro. Muitas ruas, muitos prédios, uma esquisita civilização automotiva. Lá, não andei de ônibus, não vi patos, só uma estranha confusão. Naquele planalto em que tudo fica muito longe, tem mais espaço para a solidão.


Apesar de tudo, é necessário levar em consideração que solidão não é sinônimo de tristeza. De vez em quando, e aí teremos que contradizer a internet inteira, solidão é sinônimo de liberdade. Aquela estrada imensa pela frente, todas as distâncias do mundo, a poltrona numerada, o horário de partida, e o agridoce alívio da chegada.


Este texto é de responsabilidade do autor/da autora.


34 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Commentaires


bottom of page