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Intensa

É a primeira vez que vejo partir alguém tão próximo nessa época de tanta tecnologia, com tantos registros. São muitas as vezes que me sinto revivendo cenas de obras ficcionais. Leio as mensagens de minha amiga com a voz dela. Eu que nunca fui forte suficiente para ficar revendo imagens dos que já não estão por aqui, me vejo agora relendo mensagens de 2012, 2013, 2014... e com uma vontade imensa de que elas não acabem.

Sinto como se ela ainda estivesse, mas o buraco que se abre nas poucas vezes em que a realidade mostra que não, é tão grande, que me falta ar. Não era a amizade que nos unia, mas o amor ao sonho, a vontade de mudar o mundo, o desejo de compartilhar humanidades. Aprendemos a dizer sim uma para a outra e isso movimentava muita coisa. Talvez fosse ilusão nossa, mas parecia.

Trabalhei um tanto para ver minha amiga feliz, ativa, distribuindo, sem economia, seu conhecimento e sua paixão ao mundo. Ela não trabalhou menos para que eu pudesse continuar acreditando. Nada que escreva vai chegar perto de mensurar tudo que compartilhamos. As ideias que tivemos, muitas até inocentes para nossa idade, mas não economizamos nada. Ideias, trabalhos, preocupações, atenção, afeto. Fizemos o que podíamos, com o que tínhamos e nos saímos muito bem.

As coisas ainda não voltaram para o lugar e nem sei se voltarão um dia, mas faz tempo que estou querendo escrever, porque a mulher gostava das palavras, das histórias que elas formam. E que história escreveu minha amiga. A melhor pessoa que conheci, e não digo que não tinha defeitos, é claro que tinha. Teimosa, um tanto mimada, mas eu era uma que adorava mimá-la, porque ela merecia. Mas ela tinha uma alma boa, queria ajudar todo mundo, e ainda me convencia:

- Ana, vai lá, não seja assim.

E lá íamos nós ajudar até quem não merecia. Com ela eu podia falar de qualquer coisa, qualquer hora. E acho que a existência dela foi o melhor livro que já li. Dá para ser bom. Dá para seguir mesmo quando a vida não é justa com a gente. Dá para tentar mais uma vez. É produzindo que a gente dá algum sentido à vida e, como ela, segue reverberando na vida das pessoas. Ainda não sei se ganhei ou perdi uma amiga. Sei que sinto falta, mas parece o tempo todo que ela ainda está aqui... de tão intensa que é.


Ela que corrigia meus textos e que dizia se estavam bons e se faziam sentido. Por hora teremos que ficar com minha péssima gramática e incapacidade de dar coerência as coisas.


Saudades.




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1 Comment


Simone Nunes
Simone Nunes
Sep 17, 2022

Morrendo de chorar com esse texto! Já ensaiei algumas vezes para escrever algo sobre a Jac, mas ainda não consigo, ainda sinto um abismo ao tentar entender a sua partida, ainda não sei com quem compartilhar os assuntos que só conversávamos entre nós! A vida nunca mais será igual sem ela!

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