Tenho visto tantas notícias sobre boicote, recolhimento, apreensão de livros, que penso estar voltando no tempo para uma época não muito agradável. O que aconteceu na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, nesta semana, demonstra só um pouco do que estamos passando há algum tempo. E isso não é apenas com livros que tratam de algum tema específico, mas são frases e afirmações que podem ser consideradas um ataque à ordem natural das coisas. Também não é um privilégio dessa época, ou de nosso país, mas uma questão mundial, que tem que ser levada à sério. Muitos livros (inclusive didáticos) já foram extinguidos de sala de aula por conterem conteúdos “inadequados” às crianças, mas eu pergunto, existe algum conteúdo inadequado à ser tratado em pleno século XXI? E será que uma boa mediação, seja por parte da família ou da escola não seriam uma solução para trabalhar esses temas “inadequados”? Será que esconder, ou repudiar aquilo que não nos agrada é realmente a solução?
Não é de hoje que os livros são perseguidos e considerados perigosos por líderes políticos, religiosos, e até por pessoas que se acham no direito de questionar e opinar sobre o que não tem conhecimento. Mas em resposta, a população leitora, demonstrou que quem lê tem mais discernimento e senso crítico, e entendeu que não é uma declaração infundada de certos governantes e afins, que vão fazer com que livros parem de circular, de serem lidos, vistos, pensados e repensados, justamente para acabar com o preconceito e a tirania. Formar leitores críticos, é mais que formar leitores. E acredito que essa seja a maior preocupação, pois quem enxerga além da “caixinha”, questiona, se incomoda, mexe com a realidade, transforma e forma mais pessoas conscientes... Sugiro a leitura da distopia Fahrenheit 451, que lançado em 1953, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, por Ray Bradbury, trata do tema da perseguição aos livros que eram vistos como uma ameaça para o sistema.
Acredito muito na mediação, na leitura compartilhada, na discussão de ideias, na síntese e na organização do conteúdo, na expansão do conhecimento, na livre escolha do que é mais ou menos agradável ao leitor, da liberdade de expressão, do respeito ao outro, da empatia, da transformação. E vejo isso possível através da leitura, dos livros, dos eventos literários, da promoção da leitura em todos os espaços. Então, vamos deixar os livros circular em paz!
"Então, vê agora por que os livros são tão odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. As pessoas acomodadas só querem rostos de cera, sem poros, sem pêlos, sem expressão.”
Ray Bradbury, Fahrenheit 451
Jacqueline Carteri
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