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A Solidão do Eco

No outro extremo da mesma rua silenciosa vivia um velhinho chamado Sr. Artur. Ele era um homem simpático, com um sorriso acolhedor e olhos brilhantes, mas também carregava consigo um passado marcado por perdas e desilusões. As rugas em seu rosto contavam histórias de uma vida longa e repleta de altos e baixos, mas havia uma ferida ainda aberta em seu coração que se assemelhava àquela da solitária Dona Elisa.

O Sr. Artur havia sido um músico talentoso em sua juventude, um pianista com um dom excepcional para expressar emoções através das teclas. No entanto, o amor de sua vida, uma mulher cujo nome era Maria, havia partido sem aviso prévio, deixando-o atônito e despedaçado. Desde então, sua paixão pela música foi diminuindo gradualmente, e ele se viu cada vez mais afastado do mundo exterior.

Uma tarde, enquanto caminhava pelo bairro, Sr. Artur notou a figura envelhecida de Dona Elisa através da janela de sua casa. Seus olhares se cruzaram por um breve instante, e algo inexplicável aconteceu. Em meio àquele silêncio carregado de tristeza, eles compartilharam uma conexão sutil, como se suas almas tivessem se encontrado num mar de solidão.

Impulsionado por esse encontro fortuito, Sr. Artur começou a caminhar pela rua de Dona Elisa todos os dias, na esperança de vê-la novamente. Ele passou a notar a beleza nas pequenas coisas da rua que antes passavam despercebidas, e uma nova melodia começou a ecoar em sua mente. O desejo de tocar novamente o piano começou a se avivar, como se a paixão há muito adormecida estivesse encontrando uma brecha para renascer.

Finalmente, em um dia ensolarado, o Sr. Artur reuniu coragem para bater à porta de Dona Elisa. O coração batia forte em seu peito, mas ele sentia que tinha que compartilhar a melodia que estava nascendo em sua alma. Com sua voz suave e trêmula, ele se ofereceu para tocar uma música que compusera em honra da tristeza compartilhada entre eles.

Ao som das primeiras notas tocadas no piano que estava guardado em seu coração, uma emoção profunda envolveu Dona Elisa. Era como se cada nota fosse um elo invisível que os unia, transcendendo o espaço e o tempo. Seus olhos marejados revelavam uma rara alegria, quebrando a barreira da solidão que os aprisionava.

A partir desse momento, Sr. Artur e Dona Elisa se encontravam regularmente. Ele tocava suas composições no piano, enquanto ela escutava com admiração e gratidão. A música se tornou uma linguagem para expressar o que as palavras não podiam, e eles descobriram que, mesmo nas horas de silêncio, as notas musicais enchiam o vazio de suas almas.

Com o tempo, a música de Sr. Artur tornou-se a trilha sonora de suas vidas, e eles se tornaram inseparáveis. Eles compartilharam histórias do passado, sonhos para o futuro e a força para enfrentar o presente. Dona Elisa encontrou na paixão de Sr. Artur pela música um alento para sua própria tristeza, enquanto ele encontrou na presença dela uma razão para resgatar sua arte adormecida.

As rosas no jardim de Dona Elisa voltaram a florescer, e a casa antes sombria ganhou um brilho especial. A rua silenciosa, que era um eco da solidão, tornou-se um lugar onde as melodias de um piano ecoavam harmoniosamente.

Essa história de amor tardio e música nos ensina que, às vezes, é quando estamos mais próximos do silêncio que encontramos as notas mais belas para preencher os vazios em nossos corações. Afinal, a vida é uma sinfonia complexa, onde o eco da solidão pode ser transformado em uma bela melodia de esperança, quando nos permitimos abrir nosso coração para novas conexões.

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